+ 1964 -2009

terça-feira, 28 de abril de 2009

Eu havia abandonado minha casa, o berço esplendido ao qual me deitava já não era assim tão convidativo.
Muitos fizeram como eu. Toda uma geração.
Estendemos ao longo do caminho bandeiras e gritos de ordem que no fundo era resultado de anos de alienação e ignorância.
Fiz das ruas minha casa.
Fiz do amor um comércio.
Fizemos das drogas nossa porta-voz para que nos ouvíssemos falar sobre o que não entendíamos.
Alguém falou a mim de paz com pedras nas mãos e sangue nos olhos. Seguíamos para frente sempre olhando para trás, para os grandes do passado e o resultado foi um tropeço tão grande que alguns daquele tempo tiveram que conceber seus filhos na cratera aberta pela própria ideologia.
Hoje se arrastam para fora com seus velhos na carcaça.
O que fiz das minhas leituras não vale o papel impresso e o que fiz das minhas impressões valeu toda a angustia de te-la concebido.
É na dor que crescemos.
Hoje estamos no poder e somos tão corruptos e bárbaros quantos os da velha guarda com a diferença que somos mais ignorantes, filhos de antenas e plasmas.
Pais de produtos com nomes de gente que recebem das empresas a imposta alienação de cada dia.
Que queime tudo no fogo da vaidade, a luta ainda não teve fim, acontece que essa geração ainda não definiu com quem ou pelo que luta.


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Depois de um tempo ausênte devido a problemas e soluções pessoais eis que volto (alguém ai? rs).
Juro que continuo a série abaixo rs.
Agradeço de mais o carinho do

Nectar em Flor
nesse interim.
Fui

Estranho caso de Maria IV - Eles

segunda-feira, 9 de março de 2009


Homens são animais gregários. Reunidos em bandos, mais conhecido como grupo de amigos, eles se satisfazem, contam suas glórias e exibem com prazer seus troféus de guerra, salvos as ressalvas necessárias ao orgulho de cada um, poderiam dizer que se completam. As tristezas e feridas da guerra do dia-a-dia são relatadas não como lamentações chorosas de um destino inevitável, mas sim como provações e lições a serem aprendidas e todo bando, ou melhor, amigos, os apóiam pedindo mais outra rodada.
Homens são caçadores. Competidores por natureza, se espalham pelas ruas e bares e outros locais com o intuito claro de espreitar e estudar o objeto de caça e raramente caçam sós. O sucesso ou o fracasso da caçada, claro, e relatado em bando e em mesas.
Carlos e Luiz não eram diferentes dos demais de sua espécie e como era de costume estavam eles, mais alguns pertencentes à matilha, reunidos em torno da mesa do bar Quincas Borba, estrategicamente localizado próxima ao trabalho de todos. A essa altura, já encharcados de cerveja ouviam atento os relatos de Luiz acerca do seu caso com a ruiva da padaria:

“Eu digo pra vocês, caras! Aquela mulher, como toda amante, é mesmo um risco pro meu casamento, mas com o tratamento que ela me da o que eu poderia fazer se não esticar mais uma semana antes da pular fora?”
Acenos de cabeça mostravam que a resposta era obvia de mais pra ser dita em palavras.
Todos, como se fosse um ritual embutido e praticado pelo próprio dna masculino, beberam de seus copos e se preparam para ouvir o restante da narrativa de Luiz, ávidos por saberem mais sobre aquela ruiva, quando foram interrompidos por uma pergunta:

“E o amor?” – era Sérgio, um garoto estagiário lá do escritório. Era uma semente que a pouco havia rompido o solo e queria seu lugar ao sol. Gostava de andar com os velhos lobos.
“Do que está falando?” – indagou Luiz um pouco confuso.
“Digo o amor por sua esposa?”

O amor. Sérgio havia tocado num assunto delicado, o amor para a maioria dos homens é visto como um soldado sem pátria e sem bandeira, ou seja, não é digno de confiança ou de crédito, sabem eles que é impossível escapar-lhe, mas correram dele em quanto tiverem fôlego. Então um dia ele vence e faz desses homens valentes e covardes prisioneiros de sua causa.
Alguns se casam, teem filhos e tentam, à medida que os anos dificultam as coisas, demonstrar que ainda são cativos desse mercenário, mas que apesar de tudo acham a felicidade em algum detalhe do sorriso da mulher amada.
Outros como Luiz, nada mais fazem que mascarar o que realmente sentem, se envergonham de certa forma por terem caído em campo, numa batalha que eles mesmos criaram em prol do orgulho e da recusa de crescerem. Esses também se casam e até mesmo amam suas esposas, mas demonstram deixando claro aos amigos que uma amante só é uma amante.

“O problema do Luiz – interrompe Carlos – é que ele ama uma mulher enquanto é apaixonado por todas as outras. Se a mulher e uma amante dele se encontrassem sabe o que ele diria Sérgio?”
Sérgio abana a cabeça negativamente.
“Ele diria, hei eu posso explicar, mas para a amante”.
Todos riram e beberam e terminado o ritual, voltaram pra suas casas e esposas exceto Carlos que não era casado, e quando foi pra casa tinha nas mãos um livro achado no metrô e no pescoço uma simpática garota que havia conhecido por ali mesmo.

O estranho caso de Maria Parte III - Elogio a Loucura

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009


O novo costuma assustar. A rotina, apesar de ser condenada pela língua de todos, costuma ser muito melhor aceita que a surpresa, que o novo, que o inesperado, pois tudo isso exige do ser humano uma complexa mudança de comportamento, um jogo de cintura todo especial e, além disso, a admissão que nem sempre estamos no controle das coisas, que alguma coisa em nossas próprias vidas nos escapa de nossa onipresente presença nelas.

Maria, como muitas outras pessoas nesse mundo, não sabia lhe dar muito bem com o que fosse de fora de seu planejamento e o harmonioso reger daquele dia não estava sendo nada condizente com seus planos.
O dia realmente tinha sido estressante no trabalho, exigindo dela mais do que realmente estava disposta a dar e dando menos que exigiam receber. O resultado dessa equação nada mais é que um estrangulamento do próprio eu, que morre no ápice do desentendimento consigo e renasce em muitas formas. No caso da mulher e da Maria, a mulher em questão, costuma renascer em forma de demônio.

Interessante mesmo é como os homens tratam da situação quando surge diante deles tal aparição. Nada na vida os prepara para tal enfrentamento, pois uma mulher nessas condições é uma ameaça direta ao orgulho masculino, uma vez que em suma, homens acreditam que tratar com uma mulher é questão de escolher as palavras certas. A ignorância dos homens ai os condena a um eterno retorno, o da bestialidade.
Os homens costumam dar nomes as fases que a mulher passa, talvez numa tentativa pífia de chegarem o mais próximo de a entender. A fase mais conhecida de todas é a famosa TPM e foi o que vários homens do escritório achavam que Maria tinha no final do dia quando ela partiu pra casa. Finalmente o dia tinha acabado.
Não pra Maria.

A roleta russa só termina quando atinge alguém, e a vez era do rapaz alto e magro que se aproximava da mesa que Maria estava na padaria próxima ao trabalho. Costumava ir lá vez ou outra só pra beber e odiar o mundo de passagem:

“Posso me sentar um pouco aqui?” – perguntou o cara que era todo sorriso.
“O que há com as outras mesas da casa?” – devolveu ela.
“ Não há nada – sorrindo – e é exatamente por isso que queria me sentar com você, já a vi algumas vezes aqui e sinto vontade de conhece-la”.
“Hummm! Quanta pretensão! Sabe o que é exigido pra conhecer uma mulher?” – pergunta isso pronta pra passar a arma.
“No seu caso bom gosto” – plá e arma estoura nas mãos dele.
“Não amigo – começa Maria um tanto séria – mentir só ajuda no começo quando decidimos aliviar. A pergunta foi clara e você não entendeu mesmo assim, estava pensando com a cabeça errada. Mas estou disposta a ser legal com você e vou te passar a cola pra quando a vida exigir de novo essa resposta de você.
Pra se conhecer uma mulher é necessário inteligência, sensibilidade, uma dose de sacrifício do ego, coragem e paciência tudo isso trabalhando como uma grande orquestra, em uníssono com nada fora do lugar e é exatamente por isso que nenhum homem já mais conseguiu conhecer uma mulher, pois nenhum conseguiu reunir tudo no isso ao mesmo tempo no mesmo caráter.
Mas ao menos você tem coragem.”
Maria se levantou, pagou a conta e se foi.

“TPM é foda!” –foi o que pensou o homem da roleta.

MiMOS

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009


Só uma rapidinha!

Quero agradecer a Stephanie e Arlequim pelos brindes ofertados a mim. Nem preciso dizer que mais feliz fico mesmo é com a presença desses dois anjos lá pelo Sarge.

Obrigado Moças.


Os mimos estão laaaaaaaaaaaaaaaa em baixo :)

Volto logo

O estranho caso de Maria Parte II

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009


Carlos tinha a idéia, por vezes até bem clara, de que são as paixões de um homem que o elevam ao patamar de gigantes, não obstante, acreditava ele, essa grandeza tinha um preço bastante alto a todos.
Paixões são traiçoeiras, o veneno que elas, gota a gota, injetam em nossos corações agi rápido, primeiro em nossos olhos, nos cegando para todo o resto, tudo que nos cerca é somente uma ferramenta para polir nossas paixões. Segundo em nossos cérebros que febris vislumbram mundos cada vez maiores. Quando nos damos conta, pensava ele, estávamos vivendo integralmente, alimentado pelo veneno da paixão, em prol de um coração doente e no final seriamos derrotados por ele, implacavelmente.
Agora Carlos explicava isso a seu amigo Luiz enquanto esse vigiava para ver se o chefe do escritório não estava por perto:

“Grandes homens tiveram grandes paixões e a maioria foi impulsionada e sufocada por elas. Alguns só queriam glória, outros conhecer terras distantes, alguns queriam somente unificar teorias cientificas e essas coisas, fazer uma obra musical inigualável e tal”.
Mas não são nessas coisas que mora meu coração, sabe ao que realmente me dedico?“
“Claro! Você se dedica a duas coisas grandiosamente. A primeira delas e a perder o emprego e como demonstração de superioridade tática me levar junto pra rua da amargura número 666. A segunda e mais importante delas, e comer o maior números de garotas antes de morrer e subir aos céus pra ver se restou alguma virgem por lá também”.

Ambos riram dessa observação disfarçadamente já que o chefe se aproximava pra mais uma ronda. Passado o perigo Carlos sai em sua própria defesa:

“Você se engana Luiz – começa Carlos - se acha que o que meus relacionamentos são baseados somente pela busca do sexo. Todos eles sim são baseados em meu grande sonho, minha grande busca, aquilo à qual me dedico de corpo e alma, ou seja, descobrir a mulher certa, é ai que mora meu coração”.
“A mulher certa pra que?”
“Não sei”.
“Admita! Você é um apaixonado pela solteirisse, é movido pela conquista, adora esse jogo, nasceu pra ele. È justamente por isso que nenhuma mulher passa mais que um mês sob os mesmos lençóis que você. No fundo você não saberia o que fazer quando chegasse ao seu objetivo, esse ai da mulher certa – risos- é como um cão que persegue o próprio rabo, quando o tem entre os dentes só lhe resta soltar”.

Mesmos os grandes tiveram, dividindo espaço com suas paixões, a semente da dúvida presa ao coração. E agora Carlos duvidava de si mesmo.
Para maioria ele era só um grande canalha comedor de mulheres, admirado pelos colegas pelo número de fêmeas que tinha em sua lista e odiado pelas mulheres que tiveram sua chance e agora eram só historia.
Para ele era fácil. Era bonito acima da média, alto, não muito forte, mas de um bom porte físico, tinha olhos de um mel profundo que lhe dava o ar de sonhador romântico. Um lobo em pele de cordeiro.
O discurso de seu amigo tinha algo de verdade. Gostava realmente da conquista, do flerte, da batalha de olhares e, claro, da presa abatida. Mas no fundo quem realmente conquistou quem? Alguém de fato saiu ganhado ou perdendo?
Ele estava realmente à procura de algo mais.
Estava?
“Foda-se”- e ao pensar nisso em voz, alta se lembrou do livro que por sorte veio parar em suas mão pela manhã no metrô. Na capa estava escrito:

“RISÍVEIS AMORES”
MILAN KUNDERA

É talvez valha e pena insistir.

O estranho caso de Maria

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009


Maria tinha mantinha aquela rotina comum a muitas mulheres exceto pela manhã, quando era acordada pela Aretha ao som de A Rose is still a rose que saia religiosamente às 6:00 pelo velho rádio-relógio.
No mais era se levantar, comer alguma coisa que não desse trabalho pra preparar e sair apressada para o trabalho.
Era no metrô apinhado de gente como ela que costuma ver sua vida por outro ângulo, o ângulo que seria realidade se tivesse pegado o bonde certo naquela curva de sua vida.
“Maldição”, ela pensava enquanto balançava o corpo bonito naquele vagão pastel - “Já tenho meus trinta anos e o que realizei deles? Nem ao menos fui capaz de me casar”.
Isso era verdade, outra verdade sobre ela era que nuca teve realmente vontade pelo matrimonio, nunca tivera nenhum exemplo bom acerca do casamento e o pior deles vinha de sua própria gênese, seus pais viviam em pé de guerra e disso ela tirou uma importante lição. Os homens são uns grandes filhos-da-puta.
Maria era condescendente, ela entendia e costumava dizer que não era por culpa deles, era na verdade, uma armadilha intricada da natureza que os jogava no lamaçal moral que se encontravam. Certa vez tentou explicar isso a uma amiga:

“O que podemos esperar de um tipo em que o sexo está acima de qualquer coisa?” – perguntou Maria mirando seus olhos inteligentes para sua amiga.
“Eu é que sei, traição ou filhos que nunca iram conhecer o pai, algo assim” – e Madalena riu do próprio comentário.
“É possível se formos burras pra tanto. Mas somos o lado forte da criação, temos o controle, a chave que os mantém no cabresto, porque entregar tudo de mão beijada só pra alimentar a esperança de que eles um dia mudem? A natureza os condenou a serem assim, nunca mudaram” – e ponto.

Sim ela tinha razão em um ponto, todos estamos presos a nossa natureza e com ela não era diferente. Escrava da natureza feminina que era tinha seus momentos de solidão e anseios costumava vez por outra cair na armadilha comum a todos de desejar filhos e uma casa com um jardim bonito e um homem que tivesse escapado da intrincada armadilha da natureza.

Freava esses momentos de insanidade bebendo em algum barzinho de Santana e tendo sexo casual com homens que fossem pouco interessantes, mas bonitos.
Algumas de suas amigas achavam que isso era resultado da queima de alguns sutiãs que ao invés de liberta-las lhes transformaram nos monstros que combatiam.
“Tanto melhor, ao menos a luta está em pé de igualdade” – pensava nisso agora Maria.

Maria era muito inteligente e isso ao ver dela explicava muita coisa errada de sua vida, segundo ela.
“Mulheres inteligentes espantam as pessoas, tanto homens quanto às outras mulheres” –era o que ela pensava.
Nunca terminou a faculdade e a despeito de sua inteligência Maria havia cometido muitos erros que a transformara naquela garota de pensamentos singulares e rotina comum.

Foi seu último pensamento quando percebeu que deveria saltar na estação em que estava parada, mais uma vez saiu às pressas e nem deu chance ao homem que apanhou o livro que esquecera no banco de lhe devolver o esquecido.
Ele manteve o braço esticado sacudindo o livro de um lado ao outro enquanto via a porta se fechar e Maria se afastar.
Não havia problema há muito mesmo esperava por um gancho daqueles.
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Oi pessoal :)
Faz um tempo, não? Estava com saudade de todos e corro para ir atrás do que andei perdendo por problemas que me impediam de acessar.
Mas estou de volta.

CRÔNICAS VAMPÍRICAS

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


PARTE I


A teoria do caos.

Em uma cidade dois amigos se divertem construindo programas de computadores e pequenos vírus por diversão, enquanto se empenham em desenvolver um programa capaz de aprender sozinho e que seja capaz de evoluir por conta própria.
A vida deles esta estranhamente interligada a de uma garota que anos atrás também costumavam chamá-la de amiga e que resolveu de uma hora pra outra desaparecer e tão repentinamente como sumiu resolver aparecer.
Seu nome é Lisa.
Ela vem recuperar um pouco do que deixou no passado quando resolveu ir embora, isso inclui família e amigos.
Nesse processo irá notar que tudo que fazem de certa forma esta interligada como todas as pessoas que conhecem e que suas atitudes geram ondas nas vidas das outras.

Marcada pelo signo da solidão como se isso fosse uma sina e não uma escolha ela lamenta diante de um Cristo sofredor todos os passos errados que ao seu ver trilhou.
Suas preces lhe servem não como expiação e sim como escudo e incentivo para os próximos passos que em seu entendimento deve trilhar e que lhe pode causar dor e sofrimento, mas essa é sua cruz.

“Pai! Elevo meu coração e minha oração ao mais alto e por ser pequena de mais peço que curve seus ouvidos até mim. Minha alma mergulhada em angústia pede que a console, minha cabeça cercada de dúvidas tem fome de sua sabedoria, meu tempo se aproxima e espero em ti que renove minha fé”.

- Oi Lisa! Quanto tempo!
Lisa ainda de joelhos e uma tanto assustada pela intromissão se volta pra traz e vê um daqueles que deixou pra no passado. A providência dessa vez tinha sido rápida.

- Oi Marcos! Estou feliz em te rever.
- Eu não posso dizer o mesmo, não sei lhe dar muito bem como o que estou sentindo, mas acho que não é felicidade.
- Imaginei que iria topar com essa reação quando voltasse, sabe, quando procurasse vocês de novo.
- Pelo menos esse tempo todo afastada não lhe tirou a sensatez, não é? O que quer realmente, perdão?
- Não diria isso.
- Acho que nem Deus poderia ter dar mesmo.
- Isso é uma questão de fé.
- Hum! Quantas mudanças, não era religiosa antes de partir. Mas acontece com todos os pecadores que praticam um grande mau, vêem na conversão a saída perfeita.
- A vida não é tão simples assim e tem muita coisa que não sabe sobre mim.
- Quem poderá me culpar? Você? Desculpa, mas eu não recebi nenhuma carta sua. Alias, por causa de sua fuga repentina não recebi nada além de acusações, você era a garota perfeita que tinha se metido com os caras errados, fui sempre taxado como aquele que roubou sua vida, que partiu seu coração, até mesmo tive problemas com a policia.
O foda foi como eu consegui suportar a dor da acusação. Consegui porque a dor da sua ausência era bem maior, a angustia por não ter-la por perto era praticamente insuportável comparado com o todo.
- Quer saber foda-se você!

O problema de uma vida pode se resumir num foda-se. Largamos de mão muito de nossa vida e bradamos um foda-se como um mantra que nos curasse as feridas.
O pesar é que projetamos ondas nas vidas das pessoas ao redor e no final nos importamos tanto e tanto que foda-se o que vamos fazer pra remediar, simplesmente precisamos fazer algo.


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Crônicas Vampíricas apesar do nome não tem nada haver com vampiros.
É um conjunto de contos que escrevi há um tempo atrás que tratam de relacionamentos e de dependência desses relacionamentos, como se sugassemos a existência e as carências e sentimentos de nossos alheios.
Esses contos me renderam alguns confetes numa disputa de redação, anos atrás quando estudava.
Me deu prazer escreve-los espero que dê prezer a leitura.

Triângulo do amor.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009


São Paulo – Brasil.

Sophie olhou para o lado e como que se nada fosse e perguntou: - “Qual é minha maior qualidade?”.
Jonas pego de surpresa pela pergunta, mas além de surpreso incomodado pela quebra do silêncio se remexe no sofá franzindo o cenho, enquanto seus olhos castanhos gelados olhavam visivelmente irritados pra ela, ao que responde: -“Sua imoralidade, de fato, a despeito de toda sua beleza, o que a torna mais que um simples detalhe e sorte de nascimento é a sua propensão para o mundano e o imoral, você esta sempre nua das vestes sacramentais e do socialmente aceitável. Com certeza essa é a sua melhor qualidade.
Sophie ri e olha curiosa pra ele numa tentativa de saber se o que falava era só uma provocação ou era serio. Ficou sem saber, como sempre era muito difícil extrair de Jonas algo que sua mente escondia, ler seus pensamentos era uma tarefa tão desgastante que raramente valia o esforço.
“Talvez seja por isso que o amo. Será?”. Deixou esse pensamento vagar um pouco por sua mente e o abandonou em seguida.
Sorrateiramente como uma criança que fosse fazer algo errado levantou-se da cama onde estava deitada e a passos preguiçosos sentou seu corpo nu em um sofá de frente para o que Jonas estava sentado:
“Seria capaz de matar-me?” - perguntou com o sorriso mais belo do mundo.
“Quer saber se a amo?” – soltou Jonas como se despertasse de uma hipnose.
“Não meu caro, que me ama eu sei, queria saber o que exatamente perguntei, só isso”.

Dessa vez seu olhar não era de irritação, apesar de manter o mesmo frio no olhar, era de descoberta, como se a resposta que fosse dar não fosse conhecida nem mesmo por ele antes da pergunta ter sido feita, mas após desta ter sido proferida a certeza era incontestável.

“Se preciso fosse, sim eu a mataria, com a mesma certeza que tem de meu amor. Sim eu o faria”.
Os olhos verdes-garrafa da mulher nua à frente dele brilharam com tanta intensidade após ouvir aquilo que era difícil dizer se o que mais irradiava era seu sorriso ou seu olhar. Ele também sorriu, pois sabia o que ela estava pensando.
“Se assim é então devo dizer que carece da minha maior qualidade e que pelo exato oposto tem um dos maiores defeitos do mundo. Você só não deixou de ser agraciado com o dom da imoralidade, mas também foi desgraçado com a sina dos mártires, você meu amor, es um santo”.
Riram ambos da forma teatral com que Sophie com seu sotaque carregado soltou aquela frase.

Para Sophei era exatamente o que Jonas representava, um santo, a despeito de tudo que fizera no alto dos seus vinte e oito anos de vida, e não fora pouca coisa.
Quando o conheceu ainda na França, sabia que aquele homem apesar da juventude e dos traços calmos era um homem de segredos e convicção, tinha muitos motivos para se sentir atraída por ele, já naquela época tinha um corpo bem talhado e a despeito de ser um homem alto, andava com elegância, sua pele escura fazia com que Sophei o comparasse em sua cabeça aos velhos guerreiros de tribos africanas, viris e temerários, mas era em seus olhos que ela costumava se perder, como Sophei mesma costuma dizer, eram um mar de gelos castanhos.
A mente de Sophie ainda estava presa ao passado quando um leve som interrompe seu devaneio, olha pra frente a tempo de ver Jonas se levantar e ir pensativo até a janela.
Alguns segundos se passam com ela a lhe mirar seu olhar em suas costas.
“Algum problema?” – ela indaga.
Ele se volta, pega um violão que está ali perto, mas não o toca, procura o sofá novamente e deixa o instrumento descansando em seu colo, respira fundo e diz:

“Hoje eu fui ferido no peito”.
“Como assim, Jonas?”.
“Eu a conheci assim de repente, de sorriso lindo e olhar meigo. Realmente podia me perder naquele sorriso, realmente eu queria me perder naquele sorriso e por todos os meus pecados foi exatamente o que consegui”.

Sophie o escutava cada vez mais curiosa.

“Ela poderia ser uma boa arquiteta tamanha a facilidade em projetar sonhos nas pessoas. Claro! Eu homem feito, estou aquém disso tudo, apesar de toda a feridas, apesar da lamentação. Sou homem feito, não sou?”.
“Jonas, você está me dizendo ou tentando me dizer que se apaixonou por outra pessoa?”.

Ele a olha. Solta um suspiro e uma nota no violão que lembra uma música do passado de Sophei. Sorri um sorriso tristonho e diz cantarolando:

“Eu te amo Sophei... mas ela me feriu quando disse que tem outra pessoa. Consegue entender isso?”.

Sophei se levanta procura uma roupa qualquer e se veste. Antes de sair ainda consegue sussurrar:

“Me liga”

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Quero dedicar esse conto a Giza, sorriso doce.

Um conto de Natal

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008


Oi pai!
Desculpa lhe dirigir a palavra assim de forma tão simplista, a verdade é que, depois de tantos natais sem nos falarmos, tudo que restou dessa nossa relação oi essa falta de jeito.
Não! Minto meu pai.
Além disso, ainda me resta as memórias embrulhadas em fotografias e objetos guardados em armários. Eu nunca os toco, é outra verdade, ainda tenho medo dos fantasmas desses armários e fotografias. O senhor deve saber que é justamente em noites de natal que eles resolvem sair, não é mesmo?

Faltam poucas horas. Para o natal, eu quero dizer e é justamente por isso que estou aqui.
Vim para exorcizar todos eles. Me cansei de nutri-los com minhas lágrimas, me cansei de covardemente me esconder em sorrisos falsos ou desculpas tolas, pai.
Depois daquela maldita noite de 25 de dezembro, em anos, nada foi o mesmo.
Lembro que quebrei, com nossa briga, não só algumas louças e objetos, quebrei, ou melhor quebramos também aquele velho espírito que parece cada vez mais raro nas pessoas e era tão bonito de ser ver em nossa família.
Meu coração também não sobreviveu.
Sempre tivemos nossas diferenças, mas aquilo tudo foi de mais.

Trouxe seus netos aqui comigo, estão um pouco afastados. Eles nunca entenderam e confundem com desprezo meu medo do natal. Creio que essa noite será diferente.
Nunca disse que te amava. Dane-se! Eu poderia ao menos ter demonstrado, como tardiamente estou fazendo agora.

Quantas famílias se separam em noites como essa? Quanta dor é partilhada no lugar do pão e do sorriso? E qual o custo disso em tempo?
Desculpa meu pai. Mesmo que tardiamente, desculpa, mas hoje vou sentar com minha família à mesa e vou ser a pessoa mais feliz desse mundo, a despeito de qualquer lágrima derramada.
Vou junta minhas mãos e o que restou de meu coração e farei uma oração para o senhor, e enquanto eu viver será assim, meu pai.

Faço isso também porque não quero ver meus filhos vindo até a minha lápide com tanta dor no coração e fantasmas na cabeça.

Alguém disse, meu pai, que o ultimo cristão morreu na cruz.
Acho bem possível, mas não custa tentarmos.

O Adeus (causo do menino que crescia)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Deitei minha cabeça sobre o peito já nu há algum tempo.
Ouço um sussurro dizendo “não, deixe eu ir”
Mas eu não estava a segurando, não com meus braços.

Interessante que não queria àquela altura nada que abrandasse meu coração, queria tormenta, queria a fúria no olhar e lábios trêmulos de cólera. Ergui a cabeça que tinha encontrado casa naquele seio moreno e vejo que não teria o que queria.
Respirei fundo e mergulhei igualmente fundo no olhar dela que pairava acima de minha cabeça.
Eu a odiei, foi por um segundo ou menos, mas eu a odiei. Ela era muito superior a mim e seu olhar transmitia isso, seus gestos, seu corpo retesado naquela cama, nu e exalando sexo, tudo estava acima de mim, inclusive o sentimento que nutríamos um pelo outro, meu amor era só um mimo para meu ego.

Vagabunda.
Foi o que pensei na hora e não havia justiça nesse meu pensamento.
Ela afagou minha cabeça enquanto ainda olhava pra ela e ali me senti como um cachorro abandonado, sabem?
Assim, por dor e raiva, desci com minha língua ao meio das pernas daquela mulher e mergulhei nela o mais fundo e rápido que pude naquele sexo que antes era só fonte de prazer.
Fiz isso porque sabia que sexo aquela altura machucaria sua alma e lembrava que ela mesma havia dito que “gosto de você, mas não podemos ficar juntos”.

Sim fizemos sexo mais uma última vez e só depois de alguns anos, quando atingi a maturidade que aquela mulher já possuía, percebi que o que a incomodava não era o sexo como despedida e sim a lança que eu mesmo apontava contra meu peito.
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Esse é meu post de número 100 e como tal quero oferece-lo como agradecimento e homenagem a todos aqueles que vêem aqui e me fazem companhia.
Gente que aprendi a admirar e passei a gostar como se fosse um amigo próximo, porque amigos eu já os considero.
Que todas as alegrias sejam multiplicadas por 100.
Em especial á vocês:
Carla M
GilGomex
Barbarella
Laila
*.*Allegr!a*.*
HoneyBee
Marcelo
Larissa
Sam
Staphanie
Nina
Bruno
Arlequim
Ju carvalho.

Obrigado a todos vocês.

 
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