Domingo no Internacional.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008


Eu sou do tipo aventureiro, gosto de emoções fortes, brincadeiras perigosas, nunca dispenso um cocktail de adrenalina.
O problema é que por vezes me falta algum dinheiro para, digamos, dar um toque de sofisticação a esse meu lado James Bond, convenhamos nem sempre dá pra pular de para-quedas, fazer um Rapel ou mesmo me arriscar na Algusta aqui em Sampa com uma camisa escrita 100% negro.

Nessas horas que para aplacar minha sede sangue e glória resolvo fazer a única coisa plausível para um bandeirante como eu. Sigo até o shopping INTERNACIONAL DE GUARULHOS.
Sim meus caros. Uma vez dentro dele terá momentos inesquecíveis como se fosse nada mais é que uma personagem de cinema, envolto em emoções, corajoso, audaz, tendo que tomar a melhor decisão que levará o grupo ao qual lidera pra fora daqueles labirintos de loucura e lamentos.

Claro! A primeira vista parece com um shopping qualquer, cheio de som e fúria, a não ser pelo nome que nunca foi justificado, talvez por inveja do aeroporto local que se chama Aeroporto Internacional de Guarulhos, tenham também lhe dado o nome de Internacional e a não ser por umas pinturas mal feitas de pontos turísticos famosos e de uma casa de câmbio vazia, não vejo nada de internacional.
Mas nos apressemos para a aventura.

Na entrada somos recebidos com uma fonte que jorra litros e litros de água ao sabor do vento, molhando os desavisados, logo a frente portas de vidro que se abrem e fecham como por mágica, bastando somente nos aproximarmos.
A travessia pela estrada da fonte até suas portas mágicas é calma, mas no primeiro segundo dentro de suas dependências, podemos sentir a força daquela construção e o que nos espera logo a frente.
No hall de entrada vemos duas escadas que se movem no sentido oposto, a que leva pra cima costuma ser guardada por duas beldades sorridentes e de corpo escultural.
Malditas sejam!
Eu, cauteloso que sou, observo um humano que, atraido pelos encantos das beldades, ou mesmo empurrado pela necessidade de subir as escadas, perigosamente se aproxima de mais. O que se segue é além do terrível para que qualquer língua mundana possa descrever, lamento ser eu portador desse fardo. Elas o cercam sempre sorridentes, fechando o cerco sem ao menos dar a chance para a vítima pensar no que acontece, o medo deforma seu rosto quando uma delas mostra o emblema do Mastercard, já é tarde de mais para ele.
Mais que depressa viro meu rosto e sigo na direção norte no primeiro entrave a esquerda, meus passos rápidos não me deixam ver a placa que diz:

MAcDONALD'S.

Esse sentido nos leva a um largo corredor onde vemos vitrines com roupas femininas de um lado e mulheres com olhos arregalados e brilhantes do outro. Parecem dominadas por algum tipo de encanto, pouco falam, nada ouvem. Seus parceiros em vão tentam empurra-las pra fora daquela área mas desesperados percebem que não é possível, alguns choram quando vêem suas mulheres saindo com sacolas e sacolas das lojas.
Por todo o lado se ouve e vê o mantra de adoração em letras garrafais:

OFERTA. 50% OFF. LIQUIDAÇÃO.

Sigo em frente. Procuro, tentando me desviar sacolas e entregadores de papeis, o segundo par de escadas que me levara para o topo daquela construção, a direita da saída do corredor da liquidação feminina eu as vejo, gêmeas de personalidade diferentes, uma desce outra sobe.
Mas para alcança-las eu teria que enfrentar um grande obstáculo: o CHOPP TIME.

O Chopp Time e um tipo de taverna moderna com bebidas caras e fora da realidade e da cotação de qualquer moeda, onde os bravos guerreiros que conseguiam chegar ali poderiam se embebedar e assistir a algum jogo no telão, tentar alguma coisa com as damas locais ou ouvir musica ao vivo.
Como eu, depois de tudo que tinha passado poderia resistir àquele oásis? O problema é que minha aventura poderia acabar ali se não conseguisse resistir, meu fim seria sóbrio e sem dinheiro.
Respirei fundo e a passos cuidadosos tentei seguir sem olhar mas sabendo que ao lado tinha uma tentadora foto de um chopp, espumoso e gelado me convidando de dentro de uma caneca segurada por uma daquelas gostosas de comerciais, dizendo:

- Idiota! Não está vendo que sou uma gostosa com um chopp na mão? Do que mais precisa pra gastar toda sua grana aqui?
Eu sorria. E quando já estava, cego, seguindo em direção ao bar um alarme horrível soou, tão diferente e grotesco que fui despertado do transe.
Tentando entender o que acontecia e procurando com os olhos o inimigo dos meus ouvidos, vejo bem perto de mim as gêmeas. Era minha salvação. Corro.
Atinjo com pés pesados os degraus, na metade do caminho vejo a fonte daquele barulho que havia me despertado do transe, era um dupla de cantores sertanejos que fazia um apresentação ali.

Abano a cabeça e olho pra cima. O que vejo me aterroriza. Meu coração entra em disparo, meu desespero é tal que penso em voltar na contra mão da escada. Não é possível.
A traiçoeira escada me leva direto a ela. A terrível ZUKEN CO.


continua...

Pausa na programação.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A quem possa interessar.

O Sarge esta em recesso.
O juiz desse encantador lugar está deliberando com os arquitetos do destino sobre o que fazer em seguida, quando a vida, assim de repente, muda o jeito de se comportar.

Prometo voltar a carga pela segunda.

A quem possa interessar.

Do amor (e outras invenções)

terça-feira, 11 de novembro de 2008


“Cara me diz ai porque é tão difícil lidar com mulher?”
Parei de comer aquela droga de comida que meu amigo tinha acabado de preparar, olhei pra fuça dele e vi mais uma vítima de qualquer paixão.
Devia me vingar por ter me feito de cobaia, mas pensei melhor, afinal de contas, consola-lo ia doer mais:

“Diz logo, qual é o problema?”.
Ele então desiste de cometer o suicídio ao comer aquilo que ele mesmo produziu no fogão, coloca o prato de lado, abre uma cerveja e derrama o verbo.

“Imagina a cena! Cheguei ontem na casa da Sueli, todo amoroso, louco pra beijar e sentir aquele corpinho dela deslizar entre meus dedos, a chamo no portão, ela manda entrar, corro pra dentro e o que encontro me deixa muito cabreiro”.

Estico o braço e abro uma cerveja também. Não consigo conter o sorriso de sarcasmo, provavelmente o cabeção encontrou um outro macho rondando o território e ficou todo ouriçado. Ri.

“E ai? Tinha alguém querendo demarcar o território lá também?”.
Faz cara de quem não gostou.

“Tão ruim quanto. Ela estava com aquela cara de quem está pronta pra discutir a relação, sabe?”.
Faço uma careta e ele concorda.
Penso comigo mesmo, porra, porque é tão difícil pra nós homens discutir a relação? Talvez seja porque não discutindo agente acaba enterrando os problemas dele em baixo do tapete, ou porque na maioria das vezes se torna um monólogo feminino e acabamos percebendo que, ou ela ta namorando outro cara, ou temos uma visão totalmente diferente da mesma situação. Ai nos dois casos o pau quebra.
Ele continua. Eu abro outra cerveja.
“Então... fico olhando a cara dela e tentando farejar o perigo, sabe, como um animal à espreita, tentando rever na minha mente alguma mancada que tenha dado e que por ventura ela, com aquela mania feminina de descobrir as merdas que agente apronta tenha, sabe... descoberto tudo”.
“Sei”.
“Bem, passou muita merda na minha cabeça e ela não dizia nada, então lancei mão de uns artifícios que na guerra do sexo são armas poderosas, primeiro elogiei seus cabelos e perguntei se havia mudado algo”.
“Seu verme” disse isso pensando que agente nunca faz nada direito e quando temos a chance de consertar as coisas, então ai sim, fazemos mais do mesmo, ou seja, merda.

“Eu sei, eu sei. Mas sabe de uma coisa? Não adiantou de nada, ela só fez dar um sorriso amarelo, dizer não e continuar com a carranca armada”.
“Parti então para o próximo ataque. Me aproximei dela e lhe fiz algum carinho, a beijei ali e aqui, enquanto perguntava se estava tudo bem, o que tinha acontecido, eu suava frio, sabe, a casa tinha caído eu fui o último a ser avisado”.
Olhei pra ele e imaginei a cena. Nos fazemos de forte, brigamos na rua, trocamos pneus de carro no braço, mas quando uma mulher faz cara de brava viramos umas criancinhas com medo da injeção e o medo se instala.

“Mané! Fala logo o que ela tinha, até eu estou curioso agora, aprontar com certeza você aprontou, não faz outra coisa mesmo”.
Ele aponta pra geladeira e pede pra eu pegar outra cerveja.

“Vou dizer, mas se prepara. Como disse o medo em mim já tinha se instalado, você me conhece, já dei todos os motivos praquela mulher largar de mim, mas se ela fizer isso eu tenho um treco, choro que nem criança, e peço pra voltar mesmo. Como eu não queria que a coisa chegasse a esse pé, entrei em pânico.
“Olhei pra ela e pensei em toda a bagunça, as farras, amigos e mulherada, me deu uma dor, pensei comigo, filho da puta valeu a pena?”.
“Valeu”? Disse isso dando risada.
“Cala a boca! Naquele momento só me restava uma coisa, abrir meu peito de dizer tudo, o quanto sou canalha e mulherengo e o quanto estava arrependido, foi quando peguei nas mãos dela e me preparei”
Acho que tinha bebido demais. Não podia estar ouvindo aquilo.

“E ai, conta logo!”.
“Bem ela me interrompeu quando estava abrindo a boca, olhou pra mim do jeito mais doce do mundo que se fosse diabético teria caído duro ali mesmo e o que ela disse você não vai acreditar”.
“Se você parar de enrolação e contar quem sabe”.
Tomou uma golada da cerveja. Riu e ...
“Cara! Ela olhou pra mim e me disse (fez um falsete com a voz aqui) “diz que me ama. Estou precisando ouvir isso, estou me achando tão feia hoje “cara eu não acreditei nisso”.
“Então quer dizer que toda a carranca dela era só hormônios ou coisa assim?”.
“Era”
“Mas e aquele papo de arrependido e tal, não mudou nada em você?”.
“HAAA! Aquilo. Bem sim, estou diferente sim, mas essa conversa eu deixo pra depois, sabe como é, vai ter uma festinha na casa da Leila e preciso da uma história pra Su”.
Que filho da puta!

Coro dos Escravos

terça-feira, 4 de novembro de 2008




Não há esperança para os fracos naquele terra. Triunfa a desordem e floresce às primaveras o medo e a angustia, se há o riso, ele nasce do desespero.
O sol nasce glorioso nos céus daquela terra, enquanto marcha em ritmo forte, homens e mulheres, semblantes sulcados pelos raios, pela esperança e sobretudo pela imposição da vida.
Não há esperança para os fracos lá.

Os jovens daquela terra desdenha do passado e se apóiam na inconsistência do futuro que ajudam a desconstruir.
Fraquejam sem esperança.

Os pensadores daquela terra montam seu altar em caixas televisivas, intelectualizam o preconceito, manipulam com o chicote das grandes corporações em riste, sempre pronto a punir a próxima revolução. São fracos e cínicos, sufocam com o próprio suor que goteja com sua culpa.

Não há esperança para os fracos naquela terra. Mas há os escravos dos dias e do tempo.

A eles há a glória pela busca por dias melhores e acreditam, mesmo que tácitamente, que não há honra na morte sem luta.

Os fracos! Os fracos de cima de suas muralhas de vidro e concreto, arranham o céu, mas não a face do Deus dos escravos lá em baixo.
Os escravos apesar de cegos, não se fazem de mudos, entoam o coro tão forte que há de abalar as estruturas das torres que abrigam os fracos, há de vergar o aço mais resistente e há de um dia despertar do berço esplêndido o gigante adormecido das américas.

Só espero que os jovens dessa terra despertem.

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A escultura acima se chama Gloria Victis, de Marius-Jean-Antonin Mercié.

Eu me esqueci de mencionar: O nome que da título ao texto(Coro dos escravos) é de uma ópera de Giuseppe Verdi, linda, majestosa e emocionante, vale a pena conferir nos youtubes da vida.

Pausa para o café.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Ellen, agradeço intensamente pelo carinho e presentes ofertado a mim:



Quero repassar o agrado a um blog que conheci pouco tempo mas que me fez perder algumas horas lendo tudo que está, é ele:

BELEZA DO SER
Também sei que deve estar cansativo dona Carla M mas são pra você também :)
Até.

 
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