Estranho caso de Maria IV - Eles

segunda-feira, 9 de março de 2009


Homens são animais gregários. Reunidos em bandos, mais conhecido como grupo de amigos, eles se satisfazem, contam suas glórias e exibem com prazer seus troféus de guerra, salvos as ressalvas necessárias ao orgulho de cada um, poderiam dizer que se completam. As tristezas e feridas da guerra do dia-a-dia são relatadas não como lamentações chorosas de um destino inevitável, mas sim como provações e lições a serem aprendidas e todo bando, ou melhor, amigos, os apóiam pedindo mais outra rodada.
Homens são caçadores. Competidores por natureza, se espalham pelas ruas e bares e outros locais com o intuito claro de espreitar e estudar o objeto de caça e raramente caçam sós. O sucesso ou o fracasso da caçada, claro, e relatado em bando e em mesas.
Carlos e Luiz não eram diferentes dos demais de sua espécie e como era de costume estavam eles, mais alguns pertencentes à matilha, reunidos em torno da mesa do bar Quincas Borba, estrategicamente localizado próxima ao trabalho de todos. A essa altura, já encharcados de cerveja ouviam atento os relatos de Luiz acerca do seu caso com a ruiva da padaria:

“Eu digo pra vocês, caras! Aquela mulher, como toda amante, é mesmo um risco pro meu casamento, mas com o tratamento que ela me da o que eu poderia fazer se não esticar mais uma semana antes da pular fora?”
Acenos de cabeça mostravam que a resposta era obvia de mais pra ser dita em palavras.
Todos, como se fosse um ritual embutido e praticado pelo próprio dna masculino, beberam de seus copos e se preparam para ouvir o restante da narrativa de Luiz, ávidos por saberem mais sobre aquela ruiva, quando foram interrompidos por uma pergunta:

“E o amor?” – era Sérgio, um garoto estagiário lá do escritório. Era uma semente que a pouco havia rompido o solo e queria seu lugar ao sol. Gostava de andar com os velhos lobos.
“Do que está falando?” – indagou Luiz um pouco confuso.
“Digo o amor por sua esposa?”

O amor. Sérgio havia tocado num assunto delicado, o amor para a maioria dos homens é visto como um soldado sem pátria e sem bandeira, ou seja, não é digno de confiança ou de crédito, sabem eles que é impossível escapar-lhe, mas correram dele em quanto tiverem fôlego. Então um dia ele vence e faz desses homens valentes e covardes prisioneiros de sua causa.
Alguns se casam, teem filhos e tentam, à medida que os anos dificultam as coisas, demonstrar que ainda são cativos desse mercenário, mas que apesar de tudo acham a felicidade em algum detalhe do sorriso da mulher amada.
Outros como Luiz, nada mais fazem que mascarar o que realmente sentem, se envergonham de certa forma por terem caído em campo, numa batalha que eles mesmos criaram em prol do orgulho e da recusa de crescerem. Esses também se casam e até mesmo amam suas esposas, mas demonstram deixando claro aos amigos que uma amante só é uma amante.

“O problema do Luiz – interrompe Carlos – é que ele ama uma mulher enquanto é apaixonado por todas as outras. Se a mulher e uma amante dele se encontrassem sabe o que ele diria Sérgio?”
Sérgio abana a cabeça negativamente.
“Ele diria, hei eu posso explicar, mas para a amante”.
Todos riram e beberam e terminado o ritual, voltaram pra suas casas e esposas exceto Carlos que não era casado, e quando foi pra casa tinha nas mãos um livro achado no metrô e no pescoço uma simpática garota que havia conhecido por ali mesmo.

 
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