O estranho caso de Maria Parte III - Elogio a Loucura

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009


O novo costuma assustar. A rotina, apesar de ser condenada pela língua de todos, costuma ser muito melhor aceita que a surpresa, que o novo, que o inesperado, pois tudo isso exige do ser humano uma complexa mudança de comportamento, um jogo de cintura todo especial e, além disso, a admissão que nem sempre estamos no controle das coisas, que alguma coisa em nossas próprias vidas nos escapa de nossa onipresente presença nelas.

Maria, como muitas outras pessoas nesse mundo, não sabia lhe dar muito bem com o que fosse de fora de seu planejamento e o harmonioso reger daquele dia não estava sendo nada condizente com seus planos.
O dia realmente tinha sido estressante no trabalho, exigindo dela mais do que realmente estava disposta a dar e dando menos que exigiam receber. O resultado dessa equação nada mais é que um estrangulamento do próprio eu, que morre no ápice do desentendimento consigo e renasce em muitas formas. No caso da mulher e da Maria, a mulher em questão, costuma renascer em forma de demônio.

Interessante mesmo é como os homens tratam da situação quando surge diante deles tal aparição. Nada na vida os prepara para tal enfrentamento, pois uma mulher nessas condições é uma ameaça direta ao orgulho masculino, uma vez que em suma, homens acreditam que tratar com uma mulher é questão de escolher as palavras certas. A ignorância dos homens ai os condena a um eterno retorno, o da bestialidade.
Os homens costumam dar nomes as fases que a mulher passa, talvez numa tentativa pífia de chegarem o mais próximo de a entender. A fase mais conhecida de todas é a famosa TPM e foi o que vários homens do escritório achavam que Maria tinha no final do dia quando ela partiu pra casa. Finalmente o dia tinha acabado.
Não pra Maria.

A roleta russa só termina quando atinge alguém, e a vez era do rapaz alto e magro que se aproximava da mesa que Maria estava na padaria próxima ao trabalho. Costumava ir lá vez ou outra só pra beber e odiar o mundo de passagem:

“Posso me sentar um pouco aqui?” – perguntou o cara que era todo sorriso.
“O que há com as outras mesas da casa?” – devolveu ela.
“ Não há nada – sorrindo – e é exatamente por isso que queria me sentar com você, já a vi algumas vezes aqui e sinto vontade de conhece-la”.
“Hummm! Quanta pretensão! Sabe o que é exigido pra conhecer uma mulher?” – pergunta isso pronta pra passar a arma.
“No seu caso bom gosto” – plá e arma estoura nas mãos dele.
“Não amigo – começa Maria um tanto séria – mentir só ajuda no começo quando decidimos aliviar. A pergunta foi clara e você não entendeu mesmo assim, estava pensando com a cabeça errada. Mas estou disposta a ser legal com você e vou te passar a cola pra quando a vida exigir de novo essa resposta de você.
Pra se conhecer uma mulher é necessário inteligência, sensibilidade, uma dose de sacrifício do ego, coragem e paciência tudo isso trabalhando como uma grande orquestra, em uníssono com nada fora do lugar e é exatamente por isso que nenhum homem já mais conseguiu conhecer uma mulher, pois nenhum conseguiu reunir tudo no isso ao mesmo tempo no mesmo caráter.
Mas ao menos você tem coragem.”
Maria se levantou, pagou a conta e se foi.

“TPM é foda!” –foi o que pensou o homem da roleta.

MiMOS

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009


Só uma rapidinha!

Quero agradecer a Stephanie e Arlequim pelos brindes ofertados a mim. Nem preciso dizer que mais feliz fico mesmo é com a presença desses dois anjos lá pelo Sarge.

Obrigado Moças.


Os mimos estão laaaaaaaaaaaaaaaa em baixo :)

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O estranho caso de Maria Parte II

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009


Carlos tinha a idéia, por vezes até bem clara, de que são as paixões de um homem que o elevam ao patamar de gigantes, não obstante, acreditava ele, essa grandeza tinha um preço bastante alto a todos.
Paixões são traiçoeiras, o veneno que elas, gota a gota, injetam em nossos corações agi rápido, primeiro em nossos olhos, nos cegando para todo o resto, tudo que nos cerca é somente uma ferramenta para polir nossas paixões. Segundo em nossos cérebros que febris vislumbram mundos cada vez maiores. Quando nos damos conta, pensava ele, estávamos vivendo integralmente, alimentado pelo veneno da paixão, em prol de um coração doente e no final seriamos derrotados por ele, implacavelmente.
Agora Carlos explicava isso a seu amigo Luiz enquanto esse vigiava para ver se o chefe do escritório não estava por perto:

“Grandes homens tiveram grandes paixões e a maioria foi impulsionada e sufocada por elas. Alguns só queriam glória, outros conhecer terras distantes, alguns queriam somente unificar teorias cientificas e essas coisas, fazer uma obra musical inigualável e tal”.
Mas não são nessas coisas que mora meu coração, sabe ao que realmente me dedico?“
“Claro! Você se dedica a duas coisas grandiosamente. A primeira delas e a perder o emprego e como demonstração de superioridade tática me levar junto pra rua da amargura número 666. A segunda e mais importante delas, e comer o maior números de garotas antes de morrer e subir aos céus pra ver se restou alguma virgem por lá também”.

Ambos riram dessa observação disfarçadamente já que o chefe se aproximava pra mais uma ronda. Passado o perigo Carlos sai em sua própria defesa:

“Você se engana Luiz – começa Carlos - se acha que o que meus relacionamentos são baseados somente pela busca do sexo. Todos eles sim são baseados em meu grande sonho, minha grande busca, aquilo à qual me dedico de corpo e alma, ou seja, descobrir a mulher certa, é ai que mora meu coração”.
“A mulher certa pra que?”
“Não sei”.
“Admita! Você é um apaixonado pela solteirisse, é movido pela conquista, adora esse jogo, nasceu pra ele. È justamente por isso que nenhuma mulher passa mais que um mês sob os mesmos lençóis que você. No fundo você não saberia o que fazer quando chegasse ao seu objetivo, esse ai da mulher certa – risos- é como um cão que persegue o próprio rabo, quando o tem entre os dentes só lhe resta soltar”.

Mesmos os grandes tiveram, dividindo espaço com suas paixões, a semente da dúvida presa ao coração. E agora Carlos duvidava de si mesmo.
Para maioria ele era só um grande canalha comedor de mulheres, admirado pelos colegas pelo número de fêmeas que tinha em sua lista e odiado pelas mulheres que tiveram sua chance e agora eram só historia.
Para ele era fácil. Era bonito acima da média, alto, não muito forte, mas de um bom porte físico, tinha olhos de um mel profundo que lhe dava o ar de sonhador romântico. Um lobo em pele de cordeiro.
O discurso de seu amigo tinha algo de verdade. Gostava realmente da conquista, do flerte, da batalha de olhares e, claro, da presa abatida. Mas no fundo quem realmente conquistou quem? Alguém de fato saiu ganhado ou perdendo?
Ele estava realmente à procura de algo mais.
Estava?
“Foda-se”- e ao pensar nisso em voz, alta se lembrou do livro que por sorte veio parar em suas mão pela manhã no metrô. Na capa estava escrito:

“RISÍVEIS AMORES”
MILAN KUNDERA

É talvez valha e pena insistir.

O estranho caso de Maria

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009


Maria tinha mantinha aquela rotina comum a muitas mulheres exceto pela manhã, quando era acordada pela Aretha ao som de A Rose is still a rose que saia religiosamente às 6:00 pelo velho rádio-relógio.
No mais era se levantar, comer alguma coisa que não desse trabalho pra preparar e sair apressada para o trabalho.
Era no metrô apinhado de gente como ela que costuma ver sua vida por outro ângulo, o ângulo que seria realidade se tivesse pegado o bonde certo naquela curva de sua vida.
“Maldição”, ela pensava enquanto balançava o corpo bonito naquele vagão pastel - “Já tenho meus trinta anos e o que realizei deles? Nem ao menos fui capaz de me casar”.
Isso era verdade, outra verdade sobre ela era que nuca teve realmente vontade pelo matrimonio, nunca tivera nenhum exemplo bom acerca do casamento e o pior deles vinha de sua própria gênese, seus pais viviam em pé de guerra e disso ela tirou uma importante lição. Os homens são uns grandes filhos-da-puta.
Maria era condescendente, ela entendia e costumava dizer que não era por culpa deles, era na verdade, uma armadilha intricada da natureza que os jogava no lamaçal moral que se encontravam. Certa vez tentou explicar isso a uma amiga:

“O que podemos esperar de um tipo em que o sexo está acima de qualquer coisa?” – perguntou Maria mirando seus olhos inteligentes para sua amiga.
“Eu é que sei, traição ou filhos que nunca iram conhecer o pai, algo assim” – e Madalena riu do próprio comentário.
“É possível se formos burras pra tanto. Mas somos o lado forte da criação, temos o controle, a chave que os mantém no cabresto, porque entregar tudo de mão beijada só pra alimentar a esperança de que eles um dia mudem? A natureza os condenou a serem assim, nunca mudaram” – e ponto.

Sim ela tinha razão em um ponto, todos estamos presos a nossa natureza e com ela não era diferente. Escrava da natureza feminina que era tinha seus momentos de solidão e anseios costumava vez por outra cair na armadilha comum a todos de desejar filhos e uma casa com um jardim bonito e um homem que tivesse escapado da intrincada armadilha da natureza.

Freava esses momentos de insanidade bebendo em algum barzinho de Santana e tendo sexo casual com homens que fossem pouco interessantes, mas bonitos.
Algumas de suas amigas achavam que isso era resultado da queima de alguns sutiãs que ao invés de liberta-las lhes transformaram nos monstros que combatiam.
“Tanto melhor, ao menos a luta está em pé de igualdade” – pensava nisso agora Maria.

Maria era muito inteligente e isso ao ver dela explicava muita coisa errada de sua vida, segundo ela.
“Mulheres inteligentes espantam as pessoas, tanto homens quanto às outras mulheres” –era o que ela pensava.
Nunca terminou a faculdade e a despeito de sua inteligência Maria havia cometido muitos erros que a transformara naquela garota de pensamentos singulares e rotina comum.

Foi seu último pensamento quando percebeu que deveria saltar na estação em que estava parada, mais uma vez saiu às pressas e nem deu chance ao homem que apanhou o livro que esquecera no banco de lhe devolver o esquecido.
Ele manteve o braço esticado sacudindo o livro de um lado ao outro enquanto via a porta se fechar e Maria se afastar.
Não havia problema há muito mesmo esperava por um gancho daqueles.
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Oi pessoal :)
Faz um tempo, não? Estava com saudade de todos e corro para ir atrás do que andei perdendo por problemas que me impediam de acessar.
Mas estou de volta.

 
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