Do amor (e outras invenções)

terça-feira, 11 de novembro de 2008


“Cara me diz ai porque é tão difícil lidar com mulher?”
Parei de comer aquela droga de comida que meu amigo tinha acabado de preparar, olhei pra fuça dele e vi mais uma vítima de qualquer paixão.
Devia me vingar por ter me feito de cobaia, mas pensei melhor, afinal de contas, consola-lo ia doer mais:

“Diz logo, qual é o problema?”.
Ele então desiste de cometer o suicídio ao comer aquilo que ele mesmo produziu no fogão, coloca o prato de lado, abre uma cerveja e derrama o verbo.

“Imagina a cena! Cheguei ontem na casa da Sueli, todo amoroso, louco pra beijar e sentir aquele corpinho dela deslizar entre meus dedos, a chamo no portão, ela manda entrar, corro pra dentro e o que encontro me deixa muito cabreiro”.

Estico o braço e abro uma cerveja também. Não consigo conter o sorriso de sarcasmo, provavelmente o cabeção encontrou um outro macho rondando o território e ficou todo ouriçado. Ri.

“E ai? Tinha alguém querendo demarcar o território lá também?”.
Faz cara de quem não gostou.

“Tão ruim quanto. Ela estava com aquela cara de quem está pronta pra discutir a relação, sabe?”.
Faço uma careta e ele concorda.
Penso comigo mesmo, porra, porque é tão difícil pra nós homens discutir a relação? Talvez seja porque não discutindo agente acaba enterrando os problemas dele em baixo do tapete, ou porque na maioria das vezes se torna um monólogo feminino e acabamos percebendo que, ou ela ta namorando outro cara, ou temos uma visão totalmente diferente da mesma situação. Ai nos dois casos o pau quebra.
Ele continua. Eu abro outra cerveja.
“Então... fico olhando a cara dela e tentando farejar o perigo, sabe, como um animal à espreita, tentando rever na minha mente alguma mancada que tenha dado e que por ventura ela, com aquela mania feminina de descobrir as merdas que agente apronta tenha, sabe... descoberto tudo”.
“Sei”.
“Bem, passou muita merda na minha cabeça e ela não dizia nada, então lancei mão de uns artifícios que na guerra do sexo são armas poderosas, primeiro elogiei seus cabelos e perguntei se havia mudado algo”.
“Seu verme” disse isso pensando que agente nunca faz nada direito e quando temos a chance de consertar as coisas, então ai sim, fazemos mais do mesmo, ou seja, merda.

“Eu sei, eu sei. Mas sabe de uma coisa? Não adiantou de nada, ela só fez dar um sorriso amarelo, dizer não e continuar com a carranca armada”.
“Parti então para o próximo ataque. Me aproximei dela e lhe fiz algum carinho, a beijei ali e aqui, enquanto perguntava se estava tudo bem, o que tinha acontecido, eu suava frio, sabe, a casa tinha caído eu fui o último a ser avisado”.
Olhei pra ele e imaginei a cena. Nos fazemos de forte, brigamos na rua, trocamos pneus de carro no braço, mas quando uma mulher faz cara de brava viramos umas criancinhas com medo da injeção e o medo se instala.

“Mané! Fala logo o que ela tinha, até eu estou curioso agora, aprontar com certeza você aprontou, não faz outra coisa mesmo”.
Ele aponta pra geladeira e pede pra eu pegar outra cerveja.

“Vou dizer, mas se prepara. Como disse o medo em mim já tinha se instalado, você me conhece, já dei todos os motivos praquela mulher largar de mim, mas se ela fizer isso eu tenho um treco, choro que nem criança, e peço pra voltar mesmo. Como eu não queria que a coisa chegasse a esse pé, entrei em pânico.
“Olhei pra ela e pensei em toda a bagunça, as farras, amigos e mulherada, me deu uma dor, pensei comigo, filho da puta valeu a pena?”.
“Valeu”? Disse isso dando risada.
“Cala a boca! Naquele momento só me restava uma coisa, abrir meu peito de dizer tudo, o quanto sou canalha e mulherengo e o quanto estava arrependido, foi quando peguei nas mãos dela e me preparei”
Acho que tinha bebido demais. Não podia estar ouvindo aquilo.

“E ai, conta logo!”.
“Bem ela me interrompeu quando estava abrindo a boca, olhou pra mim do jeito mais doce do mundo que se fosse diabético teria caído duro ali mesmo e o que ela disse você não vai acreditar”.
“Se você parar de enrolação e contar quem sabe”.
Tomou uma golada da cerveja. Riu e ...
“Cara! Ela olhou pra mim e me disse (fez um falsete com a voz aqui) “diz que me ama. Estou precisando ouvir isso, estou me achando tão feia hoje “cara eu não acreditei nisso”.
“Então quer dizer que toda a carranca dela era só hormônios ou coisa assim?”.
“Era”
“Mas e aquele papo de arrependido e tal, não mudou nada em você?”.
“HAAA! Aquilo. Bem sim, estou diferente sim, mas essa conversa eu deixo pra depois, sabe como é, vai ter uma festinha na casa da Leila e preciso da uma história pra Su”.
Que filho da puta!

20 comentários:

Ana Karenina disse...

Que filho da puta! ²

Típico, né?

Barbarella disse...

Definitivamente, eu amo tudo o que você escreve.

Você tem uma simplicidade, ao mesmo tempo, muita criatividade e inteligência que minha nossa senhora viu.... O lado irônico então!!!

E um filho da puta é sempre um filho da puta né...

bjos

sacodefilo disse...

Muito bom, Márcio. Tem ritmo de roteiro de curta metragem daquele festival do minuto. Conhece? Muito bom.

E no final das contas, isso é típico de mulher, cria-se um clima e diz que está carente. Engraçado como elas funcionam tão diferentes da gente... a gente fica pra baixo por causa de coisas tão diferentes e nada que uma sacanagem, umas cervejas, um cineminha não cure...

Nós somos mais simples mesmo
rs
rs

P.S.: E o sentimento de culpa no climão é básico.. é aquilo mesmo. Putz, o que será que foi que ela descobriu? rs
rs
rs

Laila disse...

Não é possível que sejam todos assim... é?

Anônimo disse...

É sempre bom dizer que ama, até quando a gente não está fazendo cara feia... rs

Marcio Sarge disse...

Laila! Definitivamente não.

Anônimo disse...

Aaahh cara, na boa:
Você fez um pouco de confusão com o tempo verbal entre a narração e os diálogos, além de alguns pequenos erros como "conCertar", é com "S" que se escreve,
e "de mais" é junto, "demais".
A história é envolvente, se não fosse eu confesso que não teria lido até o fim...

É só continuar criativo e corrigir os detalhes, valeu camarada!

Marcio Sarge disse...

Valeu você Finim pela observação e correção. Agradecido e corrigido.

Abraço!

Carla M. disse...

Marcinho querido, definitivamente tu deve entrar em pânico com DR, é quase uma fixação tu repetir isso!!! hehehehehehehehe

Amigo, acredite, nós também não entendemos vocês, mas isso só ajuda, nunca atrapalha.

beijocas

Camilíssima Furtado disse...

Marcio, o que eu faço com você, hein menino? Você fala a verdade assim, na lata e nem dói! Esse negócio de discutir a relação é mesmo um porre, sem contar que não adianta merda nenhuma. Nem perco meu tempo com isso... Se eu estiver me achando feia, mudo o cabelo, compro uma roupa nova que me deixe lindona, vou pra academia malhar, sei lá...
Agora, se eu passar em frente a um prédio em construção e os caras da obra não assobiarem, nem me chamarem de gostosa, aí fudeu! Aí a situação é crítica! Aí eu alugo duzentos filmes na locadora, faço brigadeiro de panela, compro quilos de sorvete, pipoca e refrigerante e nem adianta me ligar, tocar a campainha ou chamar os bombeiros, finjo que morri e pronto(e não me pergunte o porquê, mas isso, resolve sim o problema).

Adorei seu texto, como sempre!!!

Beijocas!!!

Antônia Burke disse...

Muito engraçado o texto, Márcio...
Eu realmente acho que as mulheres em geral são um pouco compulsivas com DR´s. De vez em quando é necessário, mas sempre...acaba com qualquer improvável boa intenção!
Beijos!

Renata Silva disse...

hahahahahha
(não queria rir mas o canalha foi engraçado!)
homens sempre são iguais!

Camila Barbosa disse...

O que dizer?
Homens sempre serão homens.
Se mais.
AHUIAHAIUHAIAUHAIUH

Beijos, querido. ;)
Obs: Não gosto de discutir relação.. :)

Camila Barbosa disse...

Sou eu ai em cima. \o/
Esqueci de entrar na conta do Arlequim.

Thiago Dalleck disse...

ahuehauheuaheuhauehuahea

Muito bom =D
Melhor que final de novela repetida xD

Anônimo disse...

Apenas respondendo: Se um beijo muda? Claro. Muda sim: Meu carinho por você aumenta! Bjs

Edu França disse...

Homem é mais óbviu mesmo, é mais elemntar no trato, mas isso se deve uma certa harmonia hormonal.. risos

Lari Bohnenberger disse...

Ahahahahhaahhahahaah!
São todos iguais, só muda endereço e CPF... rssss!
Agora, sou obrigada a admitir que, em termos de relacionamentos, eu sou meio homem. Tenho pavor de discutir a relação... Rssss!
Bjs!

Anônimo disse...

hahaha
Homens...Quem entende?
*E olha que eu jurei que o fdp ia contar todo os seus pecados...*
Texto ótimo!

Beijos

Anônimo disse...

Thanks :)
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