Carta de amor às avessas.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008


"Sabe que quando te vi pela primeira vez te achei meio pedante?" - disse isso de repente, como se cuspisse um remédio amargo.

Ela se revirou na cama de forma brusca, embrulhou o cenho numa careta, e para sua própria surpresa riu dizendo:

"Não sabia Marcelo! Ma eu sei de uma coisa, também te achei estranho, se vestia como um ator para um papel de cafetão" - risadas.
"Que isso! Não era tão ruim assim! Lembro de nossas primeiras palavras, eu te olhava nos olhos, e você fugia, tentando fazer um ar blasé e eu pensava: "que chatinha"."
"Que bobo! Eu não fugia de seus olhares à Robert de Niro, eu na verdade estava fugindo do seu hálito, não sabia naquele momento, mas agora sabe, eu detesto menta"
"Nos beijamos naquela mesma noite, não foi"? - se mexe na cama e a olha de forma terna.
"Sim e lembro que apesar de estar meio alta, conseguia dar combate as investidas de suas mãos."
"É verdade, mas apesar de sua luta, bem que estava gostando" - afaga-lhe a cabeça.
"Estava mesmo, mas poderia ter se saido melhor, se fosse mais perseverante" - risos.

Por uns segundo eles se olham perdidos na luz um do outro! Cada qual desconhecia os pensamentos e aflições de cada, que contribuiriam para que nada daquilo estivesse acontecendo, para que ambos não estivesse dividindo a mesma cama. E apesar de todas as querelas existências que desafiam o ser humano e que prega, por vezes, de forma bem sucedida a devoção ao cinismo e a descrença no amor, estão ali, dois sobreviventes que colhiam o fruto, hora doce hora amargo, das escolhas que fizera.
Ele se lembra, agora com ar de coisa passageira, as renuncias que teve que fazer e que por tempos levou a baila da duvida se realmente valia a pena.
Ela, naqueles segundos de conversa boba, se inundava com as memórias, que não sabia à época, eram uma afronta a sua felicidade futura, nunca a todo momento presente, mas sempre recorrente.
Duvidou daquele homem, por todos os defeitos que se assomavam as vistas, mas apostou nas qualidades que teve que cavar e tirar proveito.
O mesmo ele fez, e mesmo nas horas de tempestade, que por vezes balançava o mundo de ambos, que na verdade era um mundo só, não tinham duvida, deram cada passo certo, mesmo quando em estradas erradas.
Exatamente por isso terminavam aquele papo de fim de noite, com sorriso e afagos, sabiam terem feito as escolhas certas, e viver é deixar as renuncias pra traz.

"Vou ser perseverante agora"
"Não! Estou com dor de cabeça"
"É por isso que te amo. Não sabe mentir"
"É por isso que te amo. Se engana fácil" - risos e fim de noite.

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Quero agradecer a Raquel do http://devaneioseloucuras-raquel.blogspot.com/ pela visita pelo presente e palavras.
E dedico o selo "Blog DE OURO à Carla M, ao Tyler, ao Gil, e a Tâmara do Intimidade.
Obrigado a todos vocês sempre. ( o selo tá lá embaixo)

21 comentários:

Anônimo disse...

Só para variar, mais um texto foda. Você sempre me surpreende. Bjs.

Carla M. disse...

Marcinho, querido!!!

nossa, que soco na boca do estômago tu me deu agora! essa noção da sobrevivência no meio da descrença é tão real, tão concreta, que me fez me chicotear aqui por todas as desculpas que eu dou, toda a preguiça que eu tenho e todas as vezes que saí de mau humor.

tá bom, parei.

Gracias pelo selo, gracias pelo carinho e tu sabe que a admiração é recíproca!!!

beijocas!

Danilo Cruz disse...

Muito bom o texto, cara. Parabéns, você mereceu o selo. Abs!

Henrique Miné disse...

nuss cara...que dialogo final foi aquele? Muito bom...chegou a me arrepiar...xD
gostei mesmo..de verdade!

abraços

Anônimo disse...

"...dois sobreviventes que colhiam o fruto, ora doce ora amargo, das escolhas que fizera."

Acabamos sempre como refens das nossas escolhas!!!

Muito obrigada pelo selo...

estamparei no INTIMIDADE no proximmo post.

Abraços!

Camila Barbosa disse...

ahhaiuah
Maravilhoso, como sempre.
Tu recebeu um selo, passa depois no meu blog pegar, oks?

Beijão

Anônimo disse...

Tudo parece se eternizar!

Barbarella disse...

Selinho pra vc no Barbarella...

Aliás o meu selo que irei passar para aqueles blogs que eu realmente gosto de ler..

Penúltima post...

Ana Karenina disse...

Juro que quero um amor assim.
E tô com pressa. o.o

Beijos mil, Sargito.

Juan Trasmonte disse...

Legal Marcio! Afinal o que é o amor senão um belo engano...
Abs.

Camila Barbosa disse...

é, meu 'quase talento' foi reconhecido.\o/
rs
Ah, não tinha como não indicar seu blog, ele é muito bom :]

E quanto a foto que bom que gostou :DD
rs

Beijão, querido

Alessandra Allegr!a disse...

O amor não morreu...
Continua bonito e persevera entre nuvens.
Meu querido, me dá conforto na alma quando leio tuas linhas.
Retratar a crueldade não significa que sejamos cruéis.
Te vejo tão perto do amor, assim como eu.
Não o amor romântico apenas, o amor extensivo, de dentro pra fora, pro mundo.
Quem não dá amor, não pode sequer pensar em poesia.

Sei que o "Tiro ao Alvo" foi cruel, e pra você eu confesso, me doeu.
Um momento que não é meu, mas que de fato eu preguei ( por um certo pra sempre) nas minhas histórias.

Assim como vc.
Estão lá, presentes e me A╚egrando as tuas palavras!
Obrigada querido!
Um beijo meu!

Tyler Bazz disse...

Maaassa o texto!!


E valeu pelo selo! \o/
Ja coloco lá no blog...

Anônimo disse...

Não me inveje, pois aqui em Brasília não há chuva! rs

O que eu ouço mesmo é o barulho de coisas torrando, como se estivessem dispostas em uma chapa de cozinha...

Camilíssima Furtado disse...

Que blog maravilhoso! Seus textos são viciantes e suas palavras, certeiras! Estou encantada com tudo o que li e continuo lendo (quase que compulsivamente, confesso). Adorei mesmo!
Abraços, Camila.

Anônimo disse...

Ei, sumido!
Nunca mais aparecestes lá no meu cafofo :(

E como sempre, esta sua abordagem dos relacionamentos me surpreende...
Desfecho incrível! Tal o poder da sinceridade doméstica!

Beijoos

Lari Bohnenberger disse...

Uau!
Texto maravilhoso!
É uma pena que, na realidade da vida cotidiana, dificilmente consigamos deixar as renúncias pra trás e nos dedicar a outra pessoa cultivando o que há de bom nela. Porque uma hora ou outra estas renúncias acabam nos assombrando, e o amor indo embora.
Bjs!

sacodefilo disse...

Poxa, Márcio,
Sua colocação no saco de filó foi um escracho. Bem escrita, inteligente, bem argumentada.. enfim, perfeita. Você é digno do meu mais profundo respeito e admiração intelectual.
Tive que vir aqui para lhe agradecer. O post era um mini-post de terça-feira, você vem e coloca um comentário daquele nível. Cara, você ganhou um fã e acabou de entrar para o meu blog roll em caráter eterno e definitivo.
Lidar com gente inteligente e crítica é tudo de bom.
Valeu mesmo...

Marcelo Leite

sacodefilo disse...

Com relação ao seu texto. O jogo de palavras nos diálogos são de uma leveza e sutileza extraordinária.
A lógica do fechamento do texto é ótima: Um acha que a outra não sabe mentir e ela acha que ele se engana fácil. Fecha o raciocínio com chave de ouro.

Risos e fim de noite
Muito bom mesmo.

Marcelo Leite

Barbarella disse...

Olá Sarge,

você já fez alguma mudança, digo de residência mesmo. Sabe naqueles primeiros dias, quando você se sente meio que às moscas, grilos, vespas, e afins.

Então, a Barbarella tá assim sabe, de dar dó... cric cric cric...
Os barulhinhos dos grilos estão insuportáveis....

Olha, assim muito sem querer, reparei que meu endereço ali>>>>>
Continua do "crÕnicas no divã", de repente se você atualizar, você verá que tem outros post novos...hehe.. e quem sabe daria o ar da sua graça... (é eu sei, estou muito dramática, sorry, coisas de mulher com seus ciclos e suas mutações malucos)

bjos

Anônimo disse...

Como ousa? Como ousa desferir tantas combinações perfeitas de palavras, me viciar nos seus textos e depois passar uma semana sem atualizar? Não percebe o mal que você me faz com isso!?

Beijos!

 
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