domingo, 28 de setembro de 2008
O prazer não estava no autor e sim nas palavras. Claro que não era em qualquer palavra, tinha que ter extensão, elas tinham que se atracar com a língua como um beijo francês, como a um amante latino de muito jeito e pouco caráter, podia ter qualquer significado, porém tinham que desembocar todas no prazer.
Começou com tenra idade, lá pelos 14 anos quando um professor, muito erudito, citava trechos de obras grandiosas, tão grandiosas que lhe alcançaram a vulva. Dostoievsk, Bukowski, Kafka, e muitos outros a comeram, com a força pungente dos velhos sábios.
Não tinha mais volta, sonhava com elas: sobrepujante, soberba, perplexa, incomensurável, nexo, sofreguidão, uma a uma lhe atingiam aos tímpanos em sincronia com a mão que lhe atingia as pernas.
Sexo era secundário.
Houve aquele cara. Tipo bonito, boa altura, músculos bem desenhados, bom papo e agora ali no quarto dela se preparava para o banquete principal enquanto degustava sua língua, mas ela parou:
- Espere, leia isso pra mim enquanto eu arranco minhas roupas – disse isso com fogo nos olhos.
Esticando as mãos para o pequeno caderno que ela lhe entregava e sem entender nada, abriu e viu que continham palavras uma abaixo da outra, muitas.
-Ande, por favor!
Então assim o fez!
-Transcendência.
-Sim! Continue.
-Extravagante, libidinoso, altruísta...
-Sim! Sim! Quero mais – suas mãos agora se perdiam nas profundezas de si.
-Ver-ver-borr-borragico.
-O que está fazendo? Seja direto, seja, seja verborrágico.
-Home-home-ométrico, póstu-mo, e-xarrrr-ce...
-Exacerbado! É exacerbado! Por favor, não pare estou quase ...
-Sinestésico, orno-orno-ono..
-Haaaa! – a frustração era quase palpável-Para, acabou, perdi o clima!
-O que aconteceu?- havia frustração ali também.
-Acontece que você é um ignorante, não precisa de uma mulher, precisa de um professor! Sai daqui!
-Sua maluca!
E se foi, como muito outros se foram, falho onde muitos outros falharam, que lhes adiantava a beleza do corpo se não possuíam a destreza da língua.
Sim, sexo era secundário, no escuro daquela noite tateou o dicionário e sorriu.
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Esse texto eu dedico a HeneyBee do GI.